Guilherme de Pádua, o ex-ator e pastor que matou Daniella Perez em 1992, teria morrido na noite deste domingo (6), aos 53 anos, após sofrer uma parada cardíaca, de acordo com o pastor Márcio Valadão, líder da Igreja Batista da Lagoinha.
Localizada em Belo Horizonte, cidade natal de Pádua, a congregação foi quem acolheu o ex-ator após sua saída da prisão e o ordenou pastor em 2017. A morte foi confirmada pela assessoria de imprensa da Igreja Batista de Lagoinha, que informou que um comunicado será divulgado em breve.
“É um moço que a sociedade não compreende, porque praticou aquele crime da Daniella Perez. Mas ele se converteu. Era uma lagarta que virou borboleta. Ele dentro de casa agora caiu e morreu. Caiu e morreu”, disse Valadão durante transmissão ao vivo em suas redes sociais.
Pádua ganhou projeção nacional na novela “De Corpo e Alma”, exibida pela Globo na década de 1990. Nela, fazia par romântico com Daniella, filha da autora, Gloria Perez. Em 28 de dezembro de 1992, no entanto, o corpo da mocinha do folhetim foi encontrado num matagal na Barra da Tijuca, com 18 perfurações, a maioria concentradas na região do coração.
O relato de uma testemunha levou a polícia a Pádua e à então mulher dele, Paula Thomaz. Cada um dos dois foi condenado por homicídio qualificado a uma pena de quase 20 anos de prisão, após o júri popular acatar a tese da acusação de que o casal premeditou o crime –Thomaz, por ciúmes do marido; Pádua, por vingança contra a autora da novela, já que seu papel na trama vinha sendo reduzido.
Os dois apresentaram, nos últimos anos, versões diferentes para o crime. Thomaz nega que tenha participado. Pádua, que, em depoimentos à polícia, assumira a culpa, depois passou a sustentar a tese de que a sua então mulher, tomada de ciúmes pela relação dos dois parceiros de cena, é quem teria se atracado com Daniella Perez no matagal.
O caso recentemente veio à tona por causa dos 30 anos da morte da atriz e da série documental “Pacto Brutal”, da HBO Max, que se debruçou sobre o crime.
Mineiro de Belo Horizonte, Pádua nasceu em 1969 e chegou ao Rio de Janeiro no final dos anos 1980, disposto a tentar uma carreira no meio artístico. Quando do crime, ele estava no ar na novela “De Corpo e Alma” interpretando Bira, um motorista de ônibus que fazia par amoroso com Yasmin, que por sua vez era interpretada por Daniella Perez.
Com a novela, que estreou em agosto de 1992, Gloria Perez assumia a sua primeira trama das oito em voo solo. O enredo principal girava em torno de Paloma, papel de Cristiana Oliveira, que recebia o coração transplantado de outra mulher, Betina, grande amor de Diogo, papel de Tarcísio Meira. Yasmin, por sua vez, era irmã de Paloma, a protagonista da história.
Se na televisão ele dava os seus primeiros passos, no teatro já tinha somado mais papéis. Na peça “Pasolini”, por exemplo, ele interpretou o garoto de programa responsável pela morte do célebre diretor italiano. Voltaria a interpretar um michê no musical “Blue Jeans”, que causou um estouro na virada dos anos 1980 para os 1990.
Wolf Maya, diretor do espetáculo, fala em “Pacto Brutal” de como conheceu o jovem vindo de Belo Horizonte numa moto. Fábio Assunção, que estava no elenco, assim como Alexandre Frota e Maurício Mattar, se recorda de um soco cênico que Guilherme de Pádua acabou desferindo de verdade.
Por fim, o ator também voltou a interpretar um garoto de programa em “Via Appia”, filme erótico alemão rodado no universo das saunas de prostituição masculina de Copacabana.
Na época ele também participou do show de strip-tease que a travesti Eloína dos Leopardos mantinha na Galeria Alaska, conhecido point gay no bairro da zona sul carioca, e que terminava com todos os rapazes ficando completamente nus.
Há cinco anos, o ex-ator se tornou pastor da Igreja Batista da Lagoinha. Pádua concedeu poucas entrevistas sobre o caso, mas seu nome sempre reaparece por aí, como quando criou um canal no YouTube para falar de sua conversão religiosa. Numa de suas últimas aparições públicas, em 2020, foi às ruas num protesto pró-Bolsonaro.
Guilherme de Pádua era pastor batista em Belo Horizonte e havia se casado com a maquiadora Juliana Lacerda em 2017.