Rosângela da Silva, a Janja, esposa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), abriu as portas do Palácio da Alvorada e denunciou o mau estado de conservação com que encontrou a residência presidencial. Infiltração, janela quebrada e sofá rasgado foram alguns dos problemas identificados após a saída do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em entrevista à GloboNews, a primeira-dama foi acompanhada pela jornalista Natuza Nery na visita ao Palácio. Ao percorrer o espaço, incluindo a área privativa, onde residirá com Lula, Janja mostrou partes do piso de jacarandá deterioradas e infiltrações no teto. Além disso, no salão de banquete, o vidro de uma das janelas está rachado e parte da mesa de madeira apresenta lascas.

Na biblioteca onde o ex-presidente fazia as transmissões ao vivo pelas redes sociais, uma poltrona de couro está rasgada e o tapete tem buracos. Segundo Janja, a tapeçaria ‘Músicos’, de Di Cavalcanti, foi retirada do local e colocada na sala de estar em uma parede onde bate sol, o que acabou provocando o desbotamento da tela. A primeira-dama também mostrou uma imagem sacra do século XIX deixada no chão e sinalizou que muitos objetos precisarão passar por restauração.

“O que a gente percebe é que não teve cuidado, não teve manutenção”, lamentou a primeira-dama. Janja explicou que fará um inventário de todos os móveis, utensílios e obras de arte que há no Palácio. Ela ainda afirmou que, para o futuro, pretende viabilizar que o tombamento do Alvorada, que já contempla o espaço físico, se estenda aos itens internos, como mobília e obras de arte, que também são patrimônio do estado brasileiro.

Em alguns cômodos, segundo Janja, foram encontrados pertences dos antigos ocupantes do Alvorada, como peças de roupa de Michelle Bolsonaro, esposa do ex-presidente. Em outros, como numa sala de estar, o espaço estava vazio, sem móveis.

“Ainda não sei dizer o que aconteceu. Se os móveis que estavam aqui eram de propriedade da família e foram levados. Mas possivelmente antes havia móveis. Preciso saber onde estão, em que estado estão. Estamos fazendo esse levantamento”, detalhou. Ela ainda acrescentou que, até o momento, não foram encontrados registros dos itens que porventura tenham sido movidos ou retirados do Palácio.

Janja e Lula fizeram a primeira visita ao Palácio na última quarta-feira, 4. Na ocasião, o grupo antibomba da Polícia Federal (PF) também esteve no Alvorada e aproveitou a oportunidade para fazer uma varredura no local.

O casal ainda não se mudou para a residência oficial e deve fazê-lo depois da elaboração do inventário e da manutenção do espaço, que pode demorar além do previsto devido ao mau estado de conservação encontrado. Enquanto isso, eles continuam hospedados no hotel Meliá, cuja diária de alguns quartos chega a ultrapassar R$ 5 mil.

Ainda durante a entrevista, Janja ressaltou a intenção de reabrir a parte pública do Alvorada para visitação e também para exposições de artistas contemporâneos.

Histórico

O Palácio da Alvorada, projetado por Oscar Niemeyer, foi o primeiro prédio construído em alvenaria durante idealização de Brasília. Em 30 de junho de 1958, com sua inauguração, passou a ser a residência do então presidente Juscelino Kubitschek. Desde então, tornou-se a residência oficial dos presidentes da República que o sucederam.

Localizado na península que divide o Lago Paranoá em Lago Sul e Lago Norte, tem configuração horizontal arrematada por uma capela que remete às antigas casas de fazenda do Brasil colonial. O formato diferenciado das colunas externas lembram as redes estendidas em varandas, como as que contornavam os casarões coloniais.

No térreo da edificação, ficam os salões utilizados pelo Presidente da República para compromissos oficiais de governo. Já o primeiro andar constitui a parte residencial do Palácio, onde estão quatro suítes e salas íntimas. Há ainda um subsolo que abriga um auditório para 30 pessoas, sala de jogos, almoxarifado, despensa, cozinha, lavanderia e a administração do Palácio.

As primeiras obras de restauração do Alvorada foram iniciadas em dezembro de 2004, durante o primeiro mandato de Lula, e finalizadas em março de 2006. Na época, a intervenção respeitou o projeto original e chegou a contar com a colaboração do próprio Oscar Niemeyer.

Todo o processo recebeu a supervisão técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e apoio da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), na coordenação captação de recursos de patrocinadores privados.

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