Marido e sogro de cabeleireira são suspeitos de mandar matar família

A equipe de investigação da 6ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal (Paranoá) mudou a linha de apuração do caso da família desaparecida após o relato de um dos autores do crime. De acordo com o delegado-chefe da unidade investigativa, Ricardo Viana, o relato apresentado por Horácio Carlos Ferreira Barbosa, 49 anos, co-autor dos incêndios dos carros encontrados em Cristalina (GO) e Unaí (MG), “foi surpreendente”.

Segundo o que foi dito por Horácio aos policiais, o crime teria sido arquitetado por Marcos e Thiago, sogro e marido de Elizamar, respectivamente. Porém, os dois ainda teriam tido a ajuda da amante de Marco, identificada como Cláudia, e da filha tida fora do casamento, Ana Beatriz. Renata e Gabriela, esposa e filha de Marco, são as possíveis vítimas do carro incendiado em Unaí.

A motivação teria sido pela quantia de R$ 400 mil, obtidos por Renata na venda de uma casa em Planaltina. Para subtrair o dinheiro da negociação, tanto Renata quanto Gabriela, foram colocadas em cativeiro por cinco dias em uma casa alugada em Planaltina.

A promessa que teria sido feita por Marcos e Thiago é que ambos os autores do crime, Horácio e Gideon Batista de Menezes, 56, também preso nesta terça-feira (17), receberiam R$ 100 mil pela ação. Na prisão de Gideon, em Recanto das Emas, foram encontrados R$ 15 mil em espécie como parte do valor pelo crime cometido.

“Esses crimes começariam pela Elizamar”, afirmou o delegado. Ela também teria um dinheiro no qual Thiago queria subtrair. Por alguma razão não especificada pelos investigadores, segundo Viana, os mandantes do crime não conseguiram subtrair a quantia das contas bancárias nem de Renata, nem de Elizamar.

“[No plano elaborado] Elizamar seria trazida para o Paranoá, colocada em cárcere e o dinheiro seria tirado da conta dela. A partir daí dariam fim à vida dela. Só que ela chega com os três filhos [o que não teria sido planejado pelos autores do crime]. Por isso, eles acabam a reter e amarrando para depois sair do DF. Em Cristalina, eles a sufocam e ateiam fogo no veículo. As crianças também teriam sido sufocadas”, continuou o delegado, com base no depoimento de Horácio.

Na madrugada de sábado (14), seguinte à da morte de Elizamar, na sexta-feira (13), o mesmo plano foi executado, desta vez contra Renata e Gabriela. Elas foram retiradas do cativeiro em Planaltina, seguindo caminho pelo Café Sem Troco e levadas até Unaí para serem sufocadas e incendiadas juntamente com o carro. A intenção dos crimes acontecerem fora do DF, em Goiás e Minas Gerais, era para não levantar suspeitas para a capital, como sendo situações distintas e isoladas.

“O relato é muito robusto e a investigação segue para tentar confirmar a história contada por ele. […] A versão é muito rica em detalhes, inclusive temos imagens do Marcos entrando no condomínio no dia 15, posterior aos crimes. Não tenho elementos para afirmar que eles estão completamente envolvidos porque foi uma matança em série. Foram seis corpos encontrados de uma forma bem abrupta”, disse Viana.

Marcos, Thiago, Cláudia e Ana Beatriz ainda seguem desaparecidos e sendo  procurados pela investigação. Apesar do relato, eles não são tratados como foragidos, uma vez que, além do que foi contado por Horácio, ainda não há provas suficientes que os liguem ao mando do crime. Os policiais esperam a confirmação do depoimento assim que encontrarem os suspeitos.

Antes dos ocorridos, Thiago estava com um mandado de prisão expedido, segundo Viana, que não especificou as razões. Marcos também era conhecido da Polícia Civil, com passagens por roubos de veículo e até uma tentativa de latrocínio.

Quanto a Horácio e Gideon, segundo o delegado, uma vez que a intenção para o crime era “exclusivamente patrimonial”, ambos foram autuados pelo crime de extorsão mediante sequestro, tendo como qualificação o resultado de morte. A pena pelos crimes deverá variar de 24 a 30 anos de prisão, conforme contou Viana.

O caso

O misterioso caso se iniciou com o sumiço de Elizamar da Silva, de 39 anos, e seus três filhos, com idades entre 6 e 7 anos, ainda na semana passada. A mulher é dona de um salão de beleza, localizado na quadra 307 da Asa Norte.

A empresária deixou o salão, com os filhos e uma funcionária. A passageira recebeu carona até uma parada de ônibus e, por volta das 22h, informou à Elizamar que desembarcou do transporte público. Nesse momento, a cabeleireira respondeu que passaria no condomínio da sogra para buscar o marido, no Condomínio Residencial Novo Horizonte, no Itapoã.

A cabeleireira ficou no condomínio por cerca de 20 minutos. A funcionária do salão de Elizamar ainda disse à polícia que voltou a se comunicar com a patroa cerca de 40 minutos depois que foi deixada na parada de ônibus, mas não obteve resposta. O histórico de localização do celular de Elizamar, por volta da 0h30, indicou “não há modo trajeto”. O rastreio mostra que o carro passa por um posto de gasolina e, por último, pela BR-260.

À polícia, o filho mais velho da cabeleireira disse que a mãe dele chegou a se desentender com o companheiro ainda naquela noite. Em seguida, Elizamar saiu com os três filhos. No dia seguinte, o veículo foi encontrado carbonizado, com os quatro corpos dentro.

Já no domingo (15), um segundo boletim de ocorrência foi registrado na 33ª Delegacia de Polícia, em Santa Maria, por familiares que informaram o desaparecimento das outras quatro pessoas. O marido da empresária, a mãe dele, Renata Juliene Belchior, de 52 anos, o pai dele, Marcos Antônio Lopes de Oliveira, de 54 anos, e a tia das crianças e irmã de Thiago, Gabriela Belchior de Oliveira, de 25 anos.

Na madrugada desta segunda-feira (16), a polícia disse que encontrou outro veículo incendiado, um Fiat Siena que pertencia ao avô das crianças, na BR-251, altura de Unaí (MG). Dentro do carro, havia outros dois corpos carbonizados.

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