Dos quatro filmes de maior bilheteria da história, três são de James Cameron, graças ao novo “Avatar: O Caminho da Água”.
Assim como ele, os outros dois alcançaram tal feito em seu lançamento original, mas isso não impediu seus estúdios de, anos mais tarde, os relançarem nos cinemas, inflando ainda mais os números.
Foi assim no ano passado com o primeiro “Avatar” e, a partir desta quinta (9), o mesmo acontece com “Titanic”, vencedor de 11 estatuetas do Oscar que volta às salas em versão remasterizada em 3D. O navio de Cameron já havia cruzado os cinemas no formato antes, mas retorna especialmente para as comemorações de 25 anos da história de amor em alto-mar.
Não é, no entanto, por causa das dimensões do desastre ocorrido em 1912 que a obra ganhou atemporalidade. Pouco importa o naufrágio, na visão do cineasta. É o romance em seu centro que tem levado diferentes gerações ao cinema cada vez que “Titanic” zarpa rumo às salas.
“Tragédias muito maiores aconteceram desde então, mas a do Titanic tem uma qualidade novelística que perdura. E no cerne está um coração partido. Nós plantamos uma história dentro do que já era uma história incrível, e uma coisa elevou a outra, o desastre e o romance”, afirma o cineasta em conversa com jornalistas.
Em 2012, quando o público pôde vê-lo em 3D pela primeira vez, “Titanic” conquistou impressionantes US$ 343 milhões de bilheteria, cerca de R$ 1,7 bilhão. É difícil pensar que as cifras vão se repetir, mas ao menos por uma semana não haverá iceberg no caminho do longa -ele tem como maior concorrente justamente “Avatar: O Caminho da Água”, que vem perdendo o fôlego.
Apesar dos 25 anos que separam a estreia de agora, Cameron aposta que, além do romance, também devem chamar público aos cinemas os temas que, lá atrás, pouco importaram para o sucesso, mas que hoje estão em alta diante de uma geração feminista e da onda de ataque aos super-ricos vista nas telas.
Para ilustrar, o cineasta cita uma das cenas mais icônicas do longa, aquela em que Rose, a mocinha vivida por Kate Winslet, precisa se apertar dentro de um espartilho. Ela detesta os vestidos exagerados que desfilam pela primeira classe do navio e chega a contemplar o suicídio como forma de fugir das amarras sociais e da vida pré-determinada à sua frente.
E então Jack, personagem de Leonardo DiCaprio, entra em cena. “Titanic” pode soar ultrapassado numa era em que princesas da Disney já não terminam com príncipes, mas a possibilidade de escolha -de se apaixonar por alguém livre e que não pertence àquela elite esnobe- é revolucionária no contexto.
Até porque basta olhar os números da tragédia real, mencionados por Cameron para mostrar a urgência de se debater temas como desigualdade social e a crença cega numa noção equivocada de progresso. Foram os passageiros da terceira classe os que mais morreram no naufrágio de um navio vendido como praticamente incapaz de afundar -76% daquele setor pereceu, contra 58% da segunda e 39% da primeira classe.
“Agora nós nos deparamos com outra tragédia, a crise do clima, e também não podemos dar meia-volta neste navio. Adivinhe quem vai ser mais atingido pelas consequências disso? Os países mais pobres, enquanto os ricos definem a rota em direção ao iceberg. ‘Titanic’ talvez esteja mais atual do que jamais foi”, afirma Cameron.
Apesar do discurso politizado, ele cede e reforça que, no fim, dá para esquecer da “intelectualização” e só aproveitar a história de amor. Falamos, afinal, do filme de um cineasta que sabe criar espetáculos grandiosos como poucos.
Para “Titanic”, Cameron e sua equipe recriaram o colosso flutuante em estúdio, e ele alerta para um erro ao qual muitos incorrem ao falar da empreitada -o navio do filme era em escala real, não reduzida. Algumas seções da embarcação foram descartadas na versão de mentira, mas o que foi replicado ganhou tamanho semelhante ao original.
Não bastava que a réplica tivesse cerca de 230 metros de comprimento e estivesse num tanque de água enorme, que sozinho custou US$ 40 milhões. Cameron ainda orientou sua equipe a contratar figurantes que não tivessem mais do que 1,7 m de altura, para realçar a grandiosidade da embarcação aos olhos do espectador.
Em meio às comemorações de um quarto de século de “Titanic”, é curioso que o último longa do cineasta seja “Avatar: O Caminho da Água”, que também mergulha no oceano. Mas não é coincidência, diz Cameron. Mergulhador profissional, ele tem no mar uma de suas grandes paixões.
“Eu tirei meu certificado de mergulho aos 15 anos e só virei cineasta aos 26. Então eu cheguei a ‘Titanic’ com duas paixões já muito estabelecidas, que ainda hoje me acompanham”, diz. “Os oceanos são uma parte indispensável do meu ser criativo e das minhas motivações.