Desde a pandemia, alunos e professores da Universidade de Brasília têm percebido o aumento de abandono de animais nos campus da instituição. Pensando nisso, a Secretaria de Meio Ambiente (Sema) da UnB, em parceria com a Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV), lançou uma campanha para conscientizar a comunidade universitária e a população de que o abandono de animais é crime a campanha está na primeira etapa do plano de manejo dos animais comunitários da Universidade.
As notificações à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) podem ser feitas pelo telefone 197 ou pelo site. Segundo informações da campanha, para além da perspectiva criminal, há também o controle interno de população, feito pela Sema, que conta com um formulário de denúncias para os casos identificados na instituição. A ideia é que a pessoa que denunciar à polícia também preencha e envie este formulário.
Segundo Pedro Henrique Zuchi, professor do Departamento de Economia e secretário do meio ambiente da Universidade de Brasília, essa movimentação de abandono de animais existe no DF inteiro, não só na UNB. “Tem várias áreas do DF em que as pessoas abandonam os animais”. Ele explica que ao retornar da pandemia, foi verificado um volume maior de animais nos arredores da universidade. “Como nosso campus é todo monitorado, vimos gatos começando a aparecer em áreas que antes tinham um volume menor”, conta.
A partir daí, o professor conta que o objetivo da UnB é montar uma campanha para a comunidade saber que o abandono é crime. Pedro destaca que se trata do crime de maus tratos aos animais. “O que a gente quer, é conscientizar as pessoas sobre a questão do abandono. E esse abandono acontece no inicio às vezes, quando ele é filhote, ai já abandonam logo no inicio”, afirma. Ele aponta que o animal sofre para se adaptar a um local que ele não conhece. “E também abandonam animais mais velhos, que também são maus tratos. Você fica com o animal enquanto ele está te dando bem-estar, e a partir de quando ele começa a te dar trabalho, você solta”.
A Organização Mundial da Saúde Animal, considera que o abandono fere as cinco garantias que devem ser preservadas a todos os animais. Tais garantias são: ausência de fome e sede; de desconforto; de dor; de lesões e doenças; de medo e estresse; e liberdade para expressar o comportamento natural.
Então o que a campanha da universidade visa nesse momento, é coibir esse ato de abandono, um ato previsto em lei como crime, passível de dois a cinco anos de prisão, conforme a Lei Federal nº 14.064/20. “Estamos conscientizando a população, sobre o direito e o dever de denunciar um ato criminoso desse”, frisa. Pedro explica que a Secretaria do Meio Ambiente da UnB, estava refletindo se era de conhecimento comum que abandono de animal doméstico é crime. “Aqui somos 47 mil estudantes, mais 5 mil servidores. Então temos em torno de 54 mil pessoas, e se todas elas começam a pensar e ver que essa atitude não é bacana nem para o animal, nem para a sociedade”. Então o primeiro passo da campanha é que as pessoas tem que saber da crueldade desse ato. “Principalmente, quando pensamos nesse animal doméstico, que já passa por centenas de anos sendo domesticados, e é largado e não sabe como convive, como buscar alimentos, como se livrar de predadores”, cita.
O que gera problemas para as unidades de conservação, inclusive. Pedro salienta ainda, que a partir do abandono de animais, o impacto é grande para o controle de zoonose, de doenças que esses animais pegam, e para o controle das espécies silvestres que se aproveitam diretamente ou indiretamente da alimentação desses animais que pegam doenças. “Todo o sistema fica desequilibrado”.
Ainda não se sabe a quantidade dos animais que estão na Universidade de Brasília. Pedro comenta que está sendo feito um levantamento, para saber o número exato, já que muitos se escondem para se proteger. “Mas nosso objetivo com a campanha, é mostrar para as pessoas que o abandono é crime, independente de ser na UnB”. Para ele, a UnB é um grande porta-voz dessa conscientização.
Pedro destaca que essa preocupação com o abandono de animais, é mundial. “Os países que conseguiram erradicar minimamente o abandono de animais, são os que começaram a identificar que é crime, punindo e taxando quem abandona”.
Ataques de animais
Pedro ressalta que existem criação de grupos de gatos e grupos de cães que são tão ferais, que atacam quem chega perto. “Temos problemas de animais no Parque Nacional de Brasília, com cães e gatos que viraram selvagens, e estão comprometendo a vida de outras espécies”. Ele explica que isso tem que ser coibido, já que se trata de animais domésticos abandonados ao relento, que para sobreviver, eles se autodefende da forma como podem. “Isso prejudica a sociedade e o bem estar animal”.
A administradora Maria Angélica, 53 anos, é cuidadora voluntária dos gatinhos abandonados na UnB. Ela já fez parte de uma ong, mas hoje está por conta própria, alimentando os gatos abandonados. “Venho desde a pandemia, minha filha estudava aqui e eu vinha a buscar, e via os gatinhos”, conta.
Ela conta que as pessoas na UnB cuidam, que a veterinária da universidade acompanha os gatos, e tem protetores de animais que cuidam dos bichinhos que vivem na instituição. Mas ela aponta que o problema, além dos abandonos que cresceram desde a pandemia, são os cães selvagens que atacam os gatos que são abandonados ao redor dos campus. Dois gatos morreram só na semana passada. “São cachorros que também foram abandonados”, reforça.
Angélica costuma vir à UnB para alimentar os gatinhos. “Quando eu posso eu venho”, considera. Alguns bichanos, inclusive, já se acostumaram com a presença dela por ali, e aguardam a ração dela, ou de outros voluntários que costumam os visitar.