A publicação, na última segunda-feira (17), dos resultados de um ensaio clínico sobre um medicamento contra o mal de Alzheimer, desenvolvido pelo grupo farmacêutico Eli Lilly, abre as portas para sua aprovação nos Estados Unidos neste ano.
Os resultados confirmaram a capacidade do donanemab de frear o progresso da doença nos pacientes, sobretudo quando tomado nas fases iniciais.
Mas alguns especialistas estão receosos por seus benefícios seguirem sendo “modestos” e terem efeitos colaterais potencialmente perigosos.
Em maio, a Administração de Alimentação e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) aprovou um tratamento similar para o mal de Alzheimer, o Leqembi (lecanemab), fabricado pela Eisai e Biogen.
A Eli Lilly disse que espera que as autoridades sanitárias americanas se pronunciem “até o final do ano” e que está apresentando solicitações em outros países.
O donanemab, assim como o lecanemab, é admistrado por via intravenosa e ataca as placas do cérebro dos pacientes afetados, conhecidas como placas amiloides.
O ensaio clínico do tratamento da Eli Lilly foi realizado em oito países com mais de 1.700 pessoas de entre 60 e 85 anos que ainda não haviam alcançado uma fase avançada da doença.
Os resultados foram publicados na revista científica Jama nesta segunda.
Em um subgrupo de aproximadamente 1.200 pessoas cujos cérebros mostravam níveis baixos da protéina Tau – que indica uma fase ainda mais inicial da doença -, o tratamento reduziu a deterioração cognitiva e funcional (capacidade para realizar atividades cotidianas) em aproximadamente 35% em 18 meses.
Mas o tratamento pode ter efeitos colaterais graves, como edemas e hemorragias cerebrais.
Três mortes de participantes no ensaio clínico estão provavelmente relacionadas ao tratamento, informa o estudo.
“Os benfícios modestos provavelmente não seriam questionados por pacientes, médicos e contribuintes” se esses tratamentos fossem “de baixo risco, baratos e simples de administrar”, afirmaram vários especialistas em artigo também publicado na Jama. “Mas nenhuma das três coisas está demonstrada.”
Recolher mais dados, inclusive para além dos 18 meses, será crucial para melhor compreender o equilíbrio entre os benefícios e os riscos desses fármacos, destacaram.
Também criticaram a baixa proporção de pessoas não brancas incluídas no ensaio, apesar de serem as mais afetadas pela doença.
Esses fármacos de “primeira geração não são perfeitos”, resumiu Susan Kohlhaas, da organização Alzheimer’s Research UK. “Mas são um grande passo na direção correta.”
“Representam um grande avanço que pavimentará o caminho para muitos tratamentos futuros”, concordou Giles Hardingham, professor de farmacologia da Universidade de Edimburgo.