O movimento islamista palestino Hamas libertou, nesta sexta-feira (24), o primeiro grupo de reféns capturados em Israel em 7 de outubro, no âmbito de um acordo que estabelece uma trégua temporária na Faixa de Gaza, devastada pelos bombardeios israelenses.
Um total de 24 reféns, entre eles 13 israelenses, dez tailandeses e um filipino, foram entregues pelo Hamas ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), anunciou o Catar, um dos principais mediadores do conflito.
Em troca, Israel liberou “39 mulheres e crianças detidas” em suas prisões, acrescentou o emirado, que negociou o acordo ao lado de Estados Unidos e Egito. Segundo o CICV, essas pessoas devem ser enviadas para a Cisjordânia, um território ocupado por Israel desde 1967.
Os 13 reféns israelenses já estão em seu país e realizaram os primeiros “exames médicos” previstos, confirmou o Exército. Entre eles, há quatro crianças e seis mulheres, segundo uma lista oficial.
“Sua condição física é boa e eles estão sendo submetidos a uma avaliação médica e emocional”, disse Efrat Bron-Harlev, diretora do Centro Médico Infantil Schneider, responsável por acolher os reféns.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmou que seu objetivo era liberar os quase 240 reféns capturados pelo Hamas em seu ataque contra Israel em 7 de outubro, no qual os milicianos mataram 1.200 pessoas, a maioria civis, segundo as autoridades.
“Estamos decididos a trazer de volta todos os nossos reféns”, frisou Netanyahu no primeiro dia de uma trégua de quatro dias na Faixa de Gaza.
Em resposta ao ataque do Hamas, Israel efetua bombardeios incessantes contra o pequeno território palestino. O grupo islamista, que governa a Faixa de Gaza desde 2007, afirma que 14.854 pessoas morreram até agora.
Em consequência do acordo assinado na quarta-feira, Israel deve liberar três palestinos para cada refém. No total, espera-se a liberação de 50 reféns.
– ‘A guerra não terminou’ –
Para o presidente dos Estados Unidos Joe Biden, a liberação de reféns desta sexta “é apenas o começo” e há “chances reais” de estender o cessar-fogo em Gaza.
A trégua constitui o primeiro sinal de distensão após 49 dias de guerra e oferece um momento de tranquilidade aos mais de 2 milhões de habitantes de Gaza.
Em Tel Aviv, os rostos sorridentes dos reféns libertados eram projetados na fachada do Museu de Arte, com a frase “Estou de volta em casa”.
“Estou contente de ter reencontrado minha família”, mas “não farei festa até que os últimos reféns voltam para suas casas”, disse Yoni Asher, que teve a mulher e as duas filhas, de dois e quatro anos, libertadas.
Harosh Menashe, um homem de 67 anos cujo primo foi sequestrado, também pediu a libertação de “todos” os reféns. “A cada dia teremos 13 pessoas libertadas, mas e depois? Ainda teremos 190 pessoas em Gaza. O que será delas?”, questionou.
Na Cisjordânia ocupada, cenas de alegria acompanharam o retorno dos prisioneiros libertados, recebidos como “heróis” em algumas regiões, como em Beitunia ou mais ao norte, no campo de refugiados de Nablus.
“Estou feliz, mas minha libertação se deu às custas do sangue dos mártires”, disse Marah Bakir, de 24 anos, que estava presa em Israel há oito anos por tentativa de assassinato contra um guarda fronteiriço.
No sul da Faixa de Gaza, milhares de pessoas que tinham fugido para áreas próximas da fronteira com o Egito se preparavam para voltar para casa. Entre eles estava Omar Jibrin, um jovem de 16 anos.
Minutos depois do início da trégua, o adolescente saiu de um hospital do sul do território onde havia se refugiado com oito parentes. “Vou para casa”, disse à AFP.
O Exército israelense, no entanto, lançou panfletos alertando que “a guerra” não havia “acabado” e que retornar ao norte estava “proibido” e era “muito perigoso”.
As autoridades israelenses disseram que os combates “vão continuar” assim que a trégua terminar. “Tomar o controle do norte da Faixa de Gaza é a primeira etapa de uma longa guerra e nos preparamos para as fases seguintes”, disse o porta-voz do Exército Daniel Hagari.
“Ver os rostos dos 24 reféns libertados esta noite nos enche de alívio, mas reforça também nossa determinação, nos lembra por quem combatemos e não vamos parar até que todos os reféns voltem para casa”, acrescentou.
– 200 caminhões de ajuda humanitária –
Além dos bombardeios, Israel lançou, em 27 de outubro, uma operação terrestre em Gaza com o objetivo de “aniquilar” o Hamas, classificado como organização terrorista por Estados Unidos e União Europeia.
Os bombardeios devastaram a Faixa de Gaza e deslocaram 1,7 dos seus 2,4 milhões de habitantes, segundo a ONU, que denuncia uma grave crise humanitária.
Desde 9 de outubro, a população está submetida a um “cerco total” por parte de Israel, que cortou o abastecimento de comida, água, eletricidade e medicamentos.
Segundo o Catar, a trégua deve permitir a entrada de “um maior número de comboios humanitários e de ajuda, incluindo combustível”.
Nesta sexta-feira, 200 caminhões com ajuda entraram em Gaza, de acordo com o Ministério de Defesa israelense, responsável pelos assuntos civis no território palestino.
Por sua vez, o Escritório de Coordenação para Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) assinalou que os caminhões que chegaram nesta sexta representam “o maior comboio humanitário” a entrar no pequeno território palestino desde o início da guerra. Também anunciou que 129.000 litros de combustível entraram no território.