Ágatha sorri, senta e interage com os pais. A cena pode ser comum para qualquer bebê de dez meses, mas para a família dela é motivo de muita comemoração. A filha de Raiane da Rocha, 37 anos, e de Jeremias Nascimento, 44, foi a primeira paciente a ser operada no Distrito Federal ainda dentro do útero da mãe. O procedimento foi realizado há exatamente um ano: 27 de outubro de 2023. “Ver o desenvolvimento dela é lindo. É um milagre. Agradeço aos profissionais do Hospital Materno-infantil de Brasília (Hmib)”, conta Raiane.
Ainda no pré-natal, veio a notícia: a filha tinha espinha bífida, uma malformação na coluna do bebê, que fica exposta, fora do corpo. Chamada cientificamente de meningomielocele, a enfermidade gera limitações motoras e problemas neurológicos desde o útero, com consequências até o fim da vida, como hidrocefalia, problemas de mobilidade e deficiências neurológicas.
“A oferta de um procedimento de alta complexidade, único, é fruto da capacidade de toda uma equipe de profissionais dedicada a oferecer o melhor serviço à população. É uma alegria saber do sucesso do procedimento”
Lucilene Florêncio, secretária de Saúde
A cirurgia realizada no Hmib, contudo, mudou o rumo da vida de Ágatha. Hoje, os principais desafios enfrentados pela menina estão mais relacionados ao fato de ter nascido após 27 semanas e 4 dias de gestação, sendo classificada como prematura extrema. “Ela está dentro do padrão para um bebê nessa situação. Em relação à espinha bífida, está tudo bem. Estou muito feliz com o resultado da cirurgia”, diz a mãe.
Dedicação e agilidade
Inédita no DF, a cirurgia foi possível graças aos esforços de servidores da Secretaria de Saúde (SES-DF). É o que destaca a gestora da pasta, Lucilene Florêncio: “A oferta de um procedimento de alta complexidade, único, é fruto da capacidade de toda uma equipe de profissionais dedicada a oferecer o melhor serviço à população. É uma alegria saber do sucesso do procedimento”, afirma.
Mais de 20 servidores do Hmib trabalharam ao longo de três horas de cirurgia. Antes disso, porém, a agilidade foi protagonista. Uma médica da rede privada que fazia o pré-natal de Raiane identificou a condição e a encaminhou ao hospital da SES-DF em 16 de outubro. Em apenas 12 dias, foi realizada toda a preparação necessária para que a operação ocorresse no momento certo.
“A felicidade da família fica evidente no sorriso deles. É emocionante. Apesar de ser uma doença grave, com suas consequências, estamos minimizando os problemas em curto e longo prazos. Tenho certeza de que Ágatha, nossa primeira neném, terá uma vida independente no futuro, com grande possibilidade de caminhar sozinha”, conta o médico da Hmib Marcelo Filippo.
Depois do nascimento, em 6 de dezembro, Ágatha passou 59 dias internada. Em seguida, iniciou um acompanhamento multiprofissional no Hospital da Criança de Brasília (HCB). “Este último ano tem sido bom para nós. A expectativa era a de que ela pudesse crescer normalmente, mas com dificuldades. Só que o desenvolvimento dela está indo muito bem”, comemora o pai, Jeremias.
Serviço consolidado
A cirurgia de Ágatha não foi uma experiência isolada. Outros dois procedimentos do tipo já foram realizados em 2024, ambos bem-sucedidos. O Hmib se consolidou como a única instituição do Centro-Oeste a oferecer o serviço no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo referência a moradores do DF e de estados próximos.
Além da capacitação dos profissionais, a oferta de procedimentos intrauterinos requereu aquisição de insumos e equipamentos. “Após um ano da realização da cirurgia de mielomeningocele, conseguimos melhorar ainda mais o serviço de medicina fetal existente no Hmib”, comemora a médica da SES-DF Carolina Wanis.
O hospital materno oferece ainda atendimento de ponta em ginecologia e obstetrícia de emergência, reprodução humana, uroginecologia e psiquiatria perinatal. Na unidade, há também um setor de prevenção e assistência a vítimas de violência, cuidado paliativo perinatal e endoscopia ginecológica.
*Com informações da SES-DF