Dorina Gouvêa Nowill nasceu na cidade de São Paulo/SP, em 28 de maio de 1919, sendo filha de Dolores Panelli Gouvêa e Manoel Monteiro de Gouvêa. De 1927 a 1935, Dorina fez o Primário e o Ginásio (atual Ensino Fundamental I e II) no Externato Elvira Brandão.

No ano seguinte, em 1936, Dorina ficou cega, sem saber a causa real da perda de sua visão. Mesmo com as limitações do ensino da época, ela ingressou no chamado Curso Regular, na Escola Normal Caetano de Campos, em São Paulo, em 1943. A futura educadora foi a primeira estudante cega a frequentar o Curso Regular.

Durante o período escolar, Dorina decidiu mobilizar-se para diminuir as dificuldades que pessoas com cegueira e baixa visão enfrentavam para estudar e, consequentemente, inserirem-se no mercado de trabalho. Para tanto, ela desenvolveu um método de educação de crianças cegas, projeto que teve a aprovação do Departamento de Educação do Estado de São Paulo e abriu caminho para a implementação do I Curso de Especialização de Educação de Cegos na América Latina.

Educação para cegos

Em 1946, Dorina foi aos Estados Unidos especializar-se em educação para cegos. A especialização foi feita pelo curso Teacher´s College, da Universidade de Columbia. O contato com fundações localizadas em solo estadunidense possibilitou a troca de experiências e deu-lhe a possibilidade de conseguir apoio para trazer a produção em braille para o Brasil.

Dorina recebeu da Kellogg Foundation e da American Foundation for Overseas Blind uma imprensa braille completa para dar início ao seu projeto mais conhecido: a Fundação para o Livro do Cego no Brasil — atual Fundação Dorina Nowill.

Após a experiência obtida na escola com o método de ensino para crianças cegas e com sua especialização nos Estados Unidos, Dorina convenceu a Secretaria de Educação de São Paulo a criar o Departamento de Educação Especial para Cegos, em 1947.

Marido e filhos

A viagem de Dorina aos Estados Unidos rendeu-lhe o apoio que precisava para a criação de sua sonhada fundação, além de proporcionar-lhe uma parceria também na vida pessoal. Nowill casou-se com Edward Hubert Alexander, carioca importador de eletrodomésticos. Eles tiveram cinco filhos (Alexandre, Cristiano, Denise, Dorina e Márcio Manuel) e 12 netos.

Fundação Dorina Nowill

Fundação Dorina Nowill surgiu como Fundação para o Livro do Cego no Brasil, em 1946. O projeto começou suas atividades com a produção e distribuição de livros físicos em braille para a população brasileira. De lá para cá, a organização sem fins lucrativos foi responsável pela produção de mais de seis mil livros adaptados2700 audiolivros 900 títulos digitais.

As atividades da Fundação Dorina Nowill vão além do acesso à educação e da produção e distribuição de livros. São ações da organização:

  • Acesso à autonomia: oferecimento de programas de reabilitação e promoção da autonomia das pessoas com cegueira ou algum tipo de deficiência visual. As atividades são adaptadas por faixa etária, conforme a seguinte divisão: bebês e crianças de 0 a 3 anos; crianças de 4 a 6 anos; crianças de 7 anos em diante e adolescentes de até 17 anos; jovens e adultos; idosos; e familiares. As atividades contemplam prevenção e tratamento por meios terapêuticos em crianças nas fases iniciais; apoio pedagógico e orientação psicológica para crianças em idade escolar; orientação vocacional e aulas de informática para jovens e adultos; atividades socioeducativas e de fortalecimento físico e psicológico em idosos; além de orientação e esclarecimento de dúvidas para as famílias.
  • Acesso à cultura e informação: oferecimento de audiodescrição de livros; visitas guiadas com audiodescrição a museus, parques e bibliotecas; rodas de leitura; e acesso ao teatro e cinema.
  • Acesso ao trabalho: promoção de oficinas de empregabilidade; orientação vocacional e profissional; encaminhamento para cursos profissionalizantes e de capacitação profissional; além do projeto Desenvolvendo Talentos.

Prevenção de doenças

Por ter ficado cega em uma época em que a oftalmologia não contava com tantos recursos, Dorina levou consigo o desejo de que fosse possível prevenir a perda de visão.

Seus esforços resultaram na reunião do Conselho Mundial Para o Bem-Estar do Cego, órgão do qual se tornou presidente, com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia e a Associação Pan-Americana de Saúde, em 1954, no Brasil. Além disso, sua fundação promove, até os dias de hoje, atendimento oftalmológico no serviço de clínica.

Inclusão social e direitos

Em 1953, Dorina conseguiu que o direito à educação inclusiva das pessoas cegas fosse garantido por lei, no Estado de São Paulo, pelo decreto 2.287/1953.

Em 1961, o presidente Jânio Quadros convidou Dorina Nowill para dirigir a Campanha Nacional de Educação de Cegos, do então Ministério da Educação, Cultura e Desportos. Em sua gestão, a ativista conseguiu que fossem criados os serviços de educação de pessoas com cegueira em todos os estados brasileiros.

No ano de 1981, Dorina Nowill discursou, na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), abordando a transferência da tecnologia de países desenvolvidos para os territórios em desenvolvimento. Além disso, a educadora defendeu a criação da Década da Pessoa com Deficiência.Como Dorina lutava também pela adoção de medidas para inserção de cegos e pessoas com baixa visão no mercado de trabalho, ela aproveitou sua participação na Conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1982, em Genebra, para propor que a reabilitação profissional de pessoas cegas fosse pauta de discussão dos governantes. No ano seguinte, representantes do governo brasileiro, empresários e trabalhadores votaram a favor da proposta do Conselho Mundial para o Bem-Estar do Cego — voltada para a implantação de programas de reabilitação, treinamento e emprego para as pessoas com esse tipo de deficiência.

Livros

Dorina escreveu uma autobiografia em 1996, a qual ganhou o título de Eu venci mesmo assim. Traduzida para o espanhol, a obra foi distribuída por toda a Europa e América Latina, além de ter sido apresentada na reunião da União Mundial de Cegos na África do Sul, em dezembro de 2004.

Em 2002, foi lançado o livro Para ver além. A obra é composta por falas de Dorina Nowill sobre sua história e trajetória no ativismo social. O texto é organizado por Marina Gonzalez.

Morte e homenagens

Dorina Nowill morreu em 29 de agosto de 2010, na cidade de São Paulo, aos 91 anos. A causa da morte da educadora foi uma parada cardíaca.

Em 2010, postumamente, Dorina ganhou um totem na galeria tátil da Pinacoteca de São Paulo. A obra é uma homenagem à sua atuação no Programa Educativo para Públicos Especiais (PEPE), da Ação Educativa.

As homenagens a Dorina seguiram-se em 2011, ano em que o jornalista Luiz Roberto de Souza Queiroz lançou o livro Dorina Nowill: um relato da luta pela inclusão social dos cegos.

Em 2012, Dorina foi homenageada pela escola de samba Tom Maior, na ala Doação de Córneas. O enredo foi “Paz na Terra e aos homens de boa vontade”, tema em homenagem a pessoas que lutaram pela cidadania e inclusão social.

Em 2015, o Senado Federal homenageou a educadora, com a comenda Dorina Nowill, por sua defesa das pessoas com deficiência. Já em 2016, Dorina teve sua história contada no documentário Dorina: olhar para o mundo.

Dorina continua sendo lembrada como marco na luta pela inclusão social e pela acessibilidade. Em 2019, seu centenário contou com homenagens — como o doodle do Google — e atividades culturais, como o lançamento do livro em braille Como Dorinha vê o mundo, obra que apresenta, aos estudantes das escolas municipais de São Paulo, a vida de Dorinha, personagem criada por Maurício de Souza em 2004.

 

by: LUCAS GABRIEL DE OLIVEIRA

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