A Polícia Civil prendeu três homens suspeitos de desviar receitas médicas do Hospital de Base – o maior hospital público do Distrito Federal. Os documentos, segundo a investigação, eram usados para compra de medicamentos, que eram misturados a bebidas alcoólicas para produção de um entorpecente chamado “purple drink” (bebida roxa, em inglês).
Os investigadores cumpriram dois mandados de prisão em Ceilândia, na terça-feira (31). Um dos suspeitos foi encontrado em Goiás, na segunda-feira (30), por policiais militares.
O delegado à frente do caso, Rogério Henrique, da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), disse que, a partir da operação, os policiais vão investigar a participação de “pessoas vinculadas” ao Hospital de Base no esquema.
‘Purple drink’
Segundo a apuração policial, medicamentos de uso controlado eram comprados pelos criminosos para confecção de uma bebida conhecida como “purple drink”. Em seguida, a substância era vendida na internet, com divulgação nas redes sociais.
O delegado explicou que a substância – que pode provocar dependência física e psicológica – era misturada a refrigerantes, antialérgicos e doces. A ideia era dar um aspecto brilhante de cor roxa e sabor adocicado à bebida.
Ainda segundo o investigador, a mistura causa agitação, euforia e alucinação, e está cada vez mais popular entre os jovens da capital.
Nas redes sociais, os criminosos divulgavam a venda de atestados e receitas médicas para qualquer tipo de medicação.
“O grupo criminoso ainda falsificava carimbos médicos e passava a prescrever medicamentos de uso controlado”, afirmou o delegado.
Os policiais informaram ainda que o trio levava uma “vida de alto padrão”. Segundo os investigadores, eles publicavam vídeos e fotos com grandes quantias de dinheiro, faziam viagens e filmavam as drogas comercializadas.
Além disso, os suspeitos viviam em hotéis de luxo de Brasília, para evitar serem localizados pela polícia.
Risco
Os policiais informaram que a principal substância adquirida pelos suspeitos é a codeína. Rogério contou que a substância, um analgésico usado para tratar dor aguda e crônica, era misturada às bebidas alcoólicas para potencializar o efeito.
Entretanto, segundo o delegado, o remédio é contraindicado em quadros de dependência de drogas e álcool, além de provocar dependência física e psicológica. “A suspensão do medicamento pode causar não só abstinência, incluindo ansiedade, como também tremores, espasmos musculares, sudorese, rinorreia [secreção excessiva no nariz] e delírios paranoicos”, alertou.
Segundo a investigação, o grupo adquiriu pelo menos 88 frascos da substância nos últimos seis meses. “Em uma postagens das redes sociais, o grupo se gabou de ter acabado com estoque de codeína de uma farmácia da capital”, disse .
Investigação continua
Agora, os policiais vão investigar como os criminosos conseguiram ter acesso à receitas do Hospital de Base e a carimbos de profissionais da unidade de saúde. De acordo com o delegado, há indícios de contribuição de pessoas vinculadas à instituição.
O trio, preso temporariamente, vai responder por tráfico de drogas, associação para o tráfico, falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais e falsificação de documento.
Somadas, as penas dos crimes variam de 15 a 30 anos de prisão.
by: JULIANA SANTOS