Quantas vidas uma mulher pode ter? Para Fernanda Souza, muitas. Desde que descobriu o câncer de mama, no fim de 2015, a professora de 42 anos já enfrentou sete cirurgias e hoje (18) se prepara para a última. Ela é uma das 49 mulheres que, até a próxima sexta-feira (22), vão passar por cirurgias de reconstrução mamária, no Hospital Regional de Taguatinga (HRT).
“Nós sabemos que ficarão algumas cicatrizes, mas são cicatrizes de vitória. Este momento, para a gente, é muito importante, é um momento de renascer”, disse a paciente, horas antes de seguir para o centro cirúrgico.
O procedimento consiste em utilizar próteses e tecidos das costas e do abdômen para reconstruir as mamas retiradas por conta do câncer. Mais que estética, a cirurgia mexe com a autoestima e mesmo com a identidade das mulheres.
Autoestima
Com um sorriso no rosto e uma inegável vaidade com os novos cabelos, Maronice Gentil, de 49 anos, lembra que o pior momento do tratamento contra o câncer de mama foi quando se viu sem sobrancelhas e cílios. “Eu me abati, me senti doente”, conta. A decisão médica pela retirada da mama direita, há um ano, foi encarada com tranquilidade.
“É melhor tirar a mama e tirar a doença”. O único pensamento ficou para os filhos, de 16, 19 e 21 anos, para quem ela esperava voltar o mais rapidamente possível.
Em um tema que envolve emoções, o acolhimento é a palavra-chave. E, pelo sexto ano seguido, o mutirão de cirurgias de reconstrução mamária do HRT se caracteriza por criar um ambiente especial para as pacientes. Onde havia paredes brancas há agora uma decoração em homenagem a elas. Os tradicionais roupões azuis foram substituídos por modelos na cor rosa.
“É uma doença tão terrível, tão mutiladora para nós, mulheres, que a gente se sensibiliza”, conta a médica Josiane Rodrigues, mastologista responsável pelo primeiro mutirão do HRT e até hoje uma mobilizadora das equipes. “O hospital todo se mobiliza, a farmácia, a enfermaria e até a segurança.”
Parcerias
O mutirão conta, a cada ano, com mais contribuições. O BRB, a empresa Condor e a Motiva Implantes contribuíram com doações, esta última com 20 pares de próteses para ampliar os estoques do hospital. E a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica reforça o time com profissionais voluntários. “A cirurgia plástica é saúde, e nós somos sensíveis à causa das mulheres”, afirma o presidente da entidade, Sílvio Ferreira.
O voluntariado também ocorre entre os servidores. É o caso de Marta Gina. Lotada na Unidade Básica de Saúde 2 de Taguatinga, ela esteve na linha de frente da vacinação contra a covid-19. Agora, com dias de folga, decidiu dedicar o tempo ao mutirão do HRT. Ajuda na decoração, serve café, distribui lanche e, se preciso for, diz estar pronta para contribuir nas cirurgias.
by: LUCAS SANTANA