Depois de quatro edições em Goiás, o Fronteira será realizado em 2023 na capital do país. O Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental recebe as inscrições de filmes para a Mostra Cineastas na Fronteira, nova sessão competitiva do evento, até o dia 22 de março. As inscrições são gratuitas. O regulamento completo encontra-se no site, onde podem ser feitas as inscrições.
O Fronteira acontecerá no Cine Brasília entre 29 de agosto e 3 de setembro. O intuito do festival é o de exibir filmes em sua maioria inéditos no Brasil, podendo ser inscritas obras de qualquer duração, nacionais ou internacionais, desde que finalizadas a partir de janeiro de 2022. Cada realizadora e cada realizador poderão inscrever quantos filmes desejarem, desde que estejam de acordo com o regulamento do Festival.
O Festival
Desde a sua primeira edição, o Fronteira dedica-se à exibição de filmes que apostam na necessidade de pensar o mundo por meio do cinema, levando em conta as reflexões e lutas que ele provoca, como lugar de experiências singulares entre tudo que vive e pode se tornar imagem ou fonograma. O objetivo do festival é propor novos modos de percepção e apreensão do mundo, entendendo o cinema como prática estética e política.
Esta edição, pela primeira vez realizada fora de Goiás, acontece depois de quatro anos marcados por uma pandemia e uma crise da indústria cultural no país. Em 2023, o Fronteira é uma co-produção Júpiter Filmes e Barroca Filmes.
Marcela Borela, professora do Instituto Federal de Brasília e uma das diretoras artísticas do festival, comenta sobre o contexto dessa edição. “Acreditamos que o Fronteira, na sua chegada em Brasília, depois de nascer em Goiânia e fenecer no governo fascista, vai reapropriar as forças vitais do cinema como produção de conhecimento em meio a uma significativa crise da indústria cultural brasileira pós-pandemia de covid 19. O Fronteira deve apontar filmes e experiências que colocam em relação novos dispositivos de sobrevivência com o cinema”, comentou Borela.
A Fronteira
Este tipo de cidade foi construída no “meio do nada” como obra do estado nacional para ocupar o território e modernizar o país. “Ambas são “cidades planejadas” mas com inventores diferentes em momentos diferentes. Goiânia é filha da Revolução de 1930, imaginada e construída por Vargas. Ela é sinal da derrota das oligarquias rurais da antiga capital Goiás Velho, em virtude da subida da burguesia liberal local. Já Brasília é ao mesmo tempo que o aprofundamento da fronteira agrícola ao norte, o maior acontecimento civilizatório do oeste, com toda sua densidade colonizadora”, diz Marcela, aproximando as duas cidades.
Ação na fronteira
Marcela Borela destaca a dimensão da desigualdade que atravessa a produção de cinema e audiovisual e o papel do festival diante disso. “O acesso a essa produção e a própria possibilidade de fazer filmes e lançá-los ao mundo é bastante assimétrico em termos de classe, gênero, raça e território. Por isso, entende-se que é primordial que novos programadores de cinema desenvolvam uma percepção em prol dos cinemas insurgentes, soterrados e/ou excluídos historicamente. Estamos na fronteira para isto”, critica.
Serviço
V Fronteira – Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental
Inscrições para o V Fronteira – Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental
Até 22 de março pelo site www.fronteirafestival.com
Inscrições gratuitas
Instagram: instagram.com/fronteirafestival
Esta quinta edição do festival refunda limites na medida em que transita de Goiânia para Brasília. É fundamental que a narrativa se dê a partir do lugar de imaginação do território, o Centro-Oeste, mais especificamente o DF e Goiás.
Na obra “Fronteira: a degradação do outro nos confins do humano”, o sociólogo brasileiro José de Souza Martins, orienta que, a fronteira é um modo de compreender a ocupação do território brasileiro, assim como uma forma de mediação com o processo histórico americano. O pensamento do sociólogo, para Borela, está em sintonia com a ideia de que Goiânia e Brasília são consideradas “Cidades Novas de Fronteira”, conceito de Luiz Sérgio Duarte da Silva na sua obra “Brasília: modernidade e periferia”.