O livro “CRISES: análises psicológicas durante e após a pandemia de covid-19” que foi organizado pelos professores Paolla Magioni Santini e Sibélius Cefas Pereira da PUC Pontifícia Universidade Católica do Campus Poços de Caldas, apresenta trabalhos desenvolvidos por professores e alunos do curso de Graduação em Psicologia da instituição e tem como objetivo analisar as influências da pandemia na saúde mental da população ao mesmo tempo que reforça a importância da Psicologia para a prevenção e promoção do bem-estar da população.
Orientadas pela professora Letícia Dal Picolo Dal Secco de Oliveira, as alunas que estão no 10° período de Psicologia, Júlia e Natalya escreveram o capítulo “INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS EM UM CRAS: as emoções de um grupo de idosos pós-isolamento social”. Guiadas pelo interesse de descobrir as consequências psicológicas do isolamento social, as alunas foram até um CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) de uma cidade do Sul de Minas Gerais para acompanhar idosos que frequentam uma roda de conversas e atividades desenvolvidas pela unidade.
“Tinha muitas sequelas em diferentes setores da sociedade e era um objetivo nosso trazer informações sobre isso já que a gente sabia que essas informações seriam novas porque teria sido um acontecimento recente e teria poucas pesquisas sobre isso, tanto que quando a gente iniciou a pesquisa foi uma dificuldade tentar relacionar com coisas que já houvessem acontecido na vida das pessoas”, relata Natalya sobre as motivações e desafios que permearam a pesquisa que originou o capítulo.
No CRAS, Júlia e Natalya acompanharam idosos de 70 a 90 anos, em sua maioria mulheres, que participavam das atividades da unidade, como rodas de conversas com a psicólogas que abordavam diversos temas, mas principalmente assunto relacionados à pandemia, fisioterapia e ocupações que estimulavam a coordenação motora deles, como pintura de panos de pratos e corte bandeirinhas de festa junina, por exemplo.
“A maioria deles moravam sozinhos, então, muitos deles ficaram muito isolados mesmo. Tinha uma senhora que falou que antes da pandemia a família dela que morava em cidade vizinha vinha toda semana visitar ela, eles sempre faziam alguma coisa. Mas durante a pandemia ela ficou completamente sozinha e isso deixou ela muito triste, muito desanimada”, conta Júlia sobre uma das participantes da pesquisa.
Além da dificuldade de encontrar embasamento teórico para a pesquisa já que a pandemia foi um momento novo vivenciado pela humanidade, as alunas também enfrentaram desafios na parte prática do estudo. “Por ser tema muito sensível as pessoas ficavam muito emocionadas e isso era um desafio porque nós tínhamos que continuar remanejando a roda, mas pessoas estavam chorando pelo sentimento que elas tiveram” recorda, Natalya.
“Eu acho que também essa roda não foi tão grande assim quanto a gente esperava porque mesmo que já estava liberado, alguns idosos ainda tinha medo de sair de casa. Então, tiveram alguns idosos que não foram por medo de pegar Covid-19. Eles estavam muito fragilizados com a pandemia”, relembra Júlia de outro desafio enfrentado por elas durante a pesquisa.
Para a professora e orientadora Letícia, uma das principais conclusões da pesquisa foi perceber que as necessidades imediatas das pessoas idosas que participaram do âmbito do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo (SCFV) foram principalmente relacionadas ao diálogo, que serviu como uma estratégia para conversarem sobre suas vivências no período de isolamento social, que envolveu muito medo e ansiedade, pelos relatos realizados.” Com o uso de recursos lúdicos, focando no reconhecimento de suas próprias emoções – ou seja, privilegiando um processo de autoconhecimento – as pessoas idosas puderam dar nome ao que sentiam e compreender melhor os processos pelos quais passaram. As atividades contribuíram para fortalecer aquele espaço de sociabilidade, sobre o qual as idosas retrataram terem sentido muita falta durante o isolamento, potencializando sua função social de acolhimento e suporte às demandas”.
Letícia ainda destaca a importância de retratar o quanto a redução da sociabilidade e de acesso a diversos serviços impactou negativamente na saúde mental da população, com ênfase aos grupos de maior vulnerabilidade, dentre os quais está o de pessoas idosas. “Em 2022, com o retorno mais intenso de atividades presenciais, quando foi realizada essa experiência extensionista, essas questões ficaram muito claras. Compartilhar essas experiências, eu vejo como essencial para trocar possibilidades com outras profissionais e contribuir para o atendimento das diversas demandas que ainda temos e teremos por muito tempo, relacionadas aos impactos da pandemia da Covid-19”
O estudo de campo realizado pelas alunas Júlia e Natalya foi primordial para criação do capítulo escrito por elas, mas para além disso esse tipo de atividade é fundamental para construção de um profissional, porque ao mesmo tempo que aproxima o aluno ao processo de pesquisas acadêmicas, possibilita que ela coloque em prática o que aprendido dentro da sala de aula. “No caso da atividade retratada no capítulo, estamos falando de uma experiência de extensão desenvolvida a partir de uma metodologia que demanda pesquisa para aperfeiçoamento técnico e realização de intervenções adequadas junto à realidade. Se pensarmos nas diretrizes do MEC e as específicas da PUC Minas, esse tipo de atividade propicia o exercício da função social da universidade pela articulação de conhecimentos científicos e populares, trabalhando em prol da promoção da cidadania, da inclusão e do desenvolvimento social. Isso se reflete na formação cidadã e humanista tanto de discentes, quando de docentes, na perspectiva de desenvolvimento integral do ser humano”, finaliza Letícia.