O presidente Lula (PT) se reuniu na manhã desta segunda-feira (8) com a secretária de Relações Internacionais de São Paulo, Marta Suplicy, em mais um movimento para que a ex-ministra volte para o PT e ocupe a vice de Guilherme Boulos (PSOL) nas eleições deste ano.
Além da ex-ministra e do marido, Márcio Toledo, estava no encontro o deputado federal, Rui Falcão (PT-SP), que tem atuado como um dos articuladores dessa reaproximação. A possibilidade de que Marta voltasse ao PT para ser vice de Boulos foi revelada pela Folha de S.Paulo em novembro.
Segundo relatos, o petista oficializou o convite para a ex-prefeita -hoje ela não está filiada a nenhum partido. Entretanto, Marta só deve formalmente aceitá-lo após conversar com o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Lula elogiou ainda a gestão de Marta e defendeu a volta da esquerda à administração municipal.
O movimento político é delicado porque Marta é secretária de Relações Internacionais da gestão de Nunes na prefeitura e, a princípio, iria apoiar a reeleição do prefeito, que é o principal rival de Boulos na eleição.
Rui Falcão falou brevemente com jornalistas no Palácio do Planalto após a reunião e se mostrou otimista com a articulação. “Acho que o objetivo da conversa dele [do Lula] era esse [convite para ela voltar ao PT]. Vocês mesmo têm noticiado que ela poderia”, afirmou.
Questionado sobre se está confiante com a costura, o deputado disse: “Vê até pelo meu sorriso, que que vocês acham?”.
Horas depois da reunião, Marta participou no Senado do ato em memória aos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. Questionada pela reportagem sobre o convite de Lula, a ex-prefeita evitou comentar e respondeu: “conversa com o presidente não se discute”.
Como mostrou a coluna Painel, Nunes não foi avisado por Marta sobre a reunião desta segunda -o prefeito soube pela imprensa que ela havia se encontrado com Lula. Segundo aliados do prefeito, a postura de silêncio da ex-senadora tem gerado mais mal-estar do que sua eventual saída.
Marta está de férias e seu retorno ao trabalho está previsto para 14 de janeiro. Na manhã desta segunda, antes de saber sobre o encontro, Nunes afirmou à imprensa que nunca conversou com a secretária sobre esse assunto. “Ela é minha secretária, acho que se tivesse algo de concreto, ela teria falado comigo. […] Como ela não me comunicou, estou desconsiderando”, disse o prefeito durante visita a uma escola. “Tenho confiança na Marta”, completou.
Em janeiro deste ano, em entrevista à Folha de S.Paulo, ao ser questionada sobre o apoio a Nunes, Marta respondeu que ele estava “indo muito bem”. “Não vejo por que eu vá apoiar outra pessoa”, completou. No dia 22 de dezembro, Lula já havia feito um movimento ao telefonar para a ex-prefeita de São Paulo.
Segundo aliados, Lula entrou em contato com Marta para lhe desejar um feliz Natal. Aproveitou a oportunidade, entretanto, para manifestar o desejo de que ela se filie ao PT e integre a chapa de Boulos na corrida pela Prefeitura de São Paulo.
O presidente também a convidou para participar da solenidade em defesa da democracia, devido ao aniversário dos ataques do 8/1. Após essa conversa com Lula, Marta deverá ter seu primeiro encontro com Boulos. Petistas projetam que a presença da ex-prefeita no palanque do candidato do PSOL garantiria um crescimento expressivo na largada da corrida municipal.
Integrantes do governo Lula se dizem otimistas quanto ao sucesso da articulação e afirmam que o prefeito propiciou o ambiente para a saída de Marta de seu governo ao divulgar um vídeo em que pede apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à sua candidatura à reeleição.
A manifestação do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, em favor de uma aliança com Nunes também serviria de justificativa para um retorno de Marta ao PT.
Em novembro, antes de embarcar para o exterior, Lula delegou a aliados a missão de reabertura de canais de diálogo com sua ex-ministra. De volta ao Brasil, o próprio presidente manifestou a colaboradores sua disposição de trabalhar por uma aliança entre Marta e Boulos.
Na reunião ministerial do mês passado, Lula deu sinais de que pretende trabalhar pela retirada da candidatura da deputada Tabata Amaral (PSB) à prefeitura, ao afirmar que não haveria chances de ele e o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), estarem em palanques opostos na sucessão municipal em São Paulo.
Tanto líderes petistas quanto o próprio Boulos têm afirmado que a discussão sobre vice será feita apenas em 2024. Pelo acordo firmado entre as duas legendas, o PSOL cederá a posição ao PT e a vaga ficará preferencialmente com uma mulher.
O nome de Marta é bem recebido tanto entre petistas como entre psolistas, que listam uma série de qualidades da ex-prefeita. Para eles, ela é querida e conhecida no eleitorado da periferia e agrega a Boulos sua experiência administrativa.
Marta foi um dos principais nomes do PT, tendo sido eleita prefeita de São Paulo em 2000. Ela acabou sendo derrotada por José Serra (PSDB) na tentativa de se reeleger, em 2004. Disputou o comando da capital paulista outras duas vezes, em 2008 e 2016, mas não conseguiu se eleger.
Após ter sido ministra do Turismo no segundo mandato de Lula na Presidência, eleger-se para o Senado em 2010 e ser ministra da Cultura do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), rompeu com o PT e deixou a sigla em 2015. No ano seguinte, votou pelo impeachment de Dilma.
Marta passou pelo MDB e Solidariedade e está, atualmente, sem partido. Ela chegou à Secretaria Municipal de Relações Internacionais depois de se engajar na campanha de Bruno Covas (PSDB) em 2020.
A ex-prefeita se reaproximou de Lula e do PT a partir de 2019 e, na campanha de 2022 chegou a ser cogitada para a vice do na chapa presidencial do petista, antes da bem-sucedida articulação com Alckmin. No segundo turno, atuou para consumação do apoio de Simone Tebet a Lula.