Cidade Pomar: Brasília tem 950 mil árvores frutíferas

Reconhecida mundialmente pelos traços da dupla revolucionária da arquitetura brasileira, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, Brasília foi eleita Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1987, pela Unesco, o braço da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura. Com o planejamento urbano arrojado, edifícios modernos e vastas áreas verdes, a capital do país foi o primeiro conjunto urbanístico construído no século XX a receber tal honraria.

Poucos sabem, no entanto, que, ao rabiscar a planta arquitetônica da capital federal, Lúcio Costa fez brotar do barro vermelho do Cerrado não só os consagrados monumentos, mas as plantas frutíferas entre os prédios, parques e praças do Plano Piloto. O objetivo era promover a harmonia entre o homem e a natureza, oferecer sombra e, claro, frutas frescas durante todo o ano. Por isso, os brasilienses colhem hoje o fruto do planejamento sustentável da “cidade pomar” que se tornou Brasília.

Segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), o Distrito Federal conta com 1,5 milhão de árvores, das quais 950 mil são frutíferas de 35 espécies para garantir a colheita e saciar o apetite dos moradores. Além de frutas nativas do Cerrado como cagaita, baru, pequi, por exemplo, também é possível encontrar espécies exóticas ao nosso bioma e mais conhecidas, tais como: manga, jaca, pitanga, goiaba e outras. “As árvores frutíferas vêm sendo plantadas desde a construção de Brasília e seguem o plano de arborização originalmente previsto no relatório de Lúcio Costa”. Ainda de acordo com o órgão, existem 5,5 milhões de árvores em todo o DF. Há ainda 186 milhões de metros quadrados de grama e 650 jardins em áreas públicas e oficiais.

Morar em Brasília é viver a experiência única de colher uma manga, goiaba, mamão ou até framboesa no caminho para o trabalho. Cenas de pessoas olhando para cima, em busca dos frutos mais maduros são recorrentes. São tão comuns quanto vê-las trepando nos pés ou jogando um pedaço de madeira para alcançar as suculentas frutas. O morador do Paranoá, Adenilson Oliveira usa, inclusive, técnicas de rapel e sempre leva uma corda no carro para colher as frutas. Experiente, ensina como saber quando é a hora de colher. “No caso do abacate, é só verificar no chão abaixo da árvore. Se houver um número considerável de frutos caídos é hora da colheita”, explica.

Logo depois, ele lança a corda e trepa no pé de manga mais próximo para colher as mais maduras. “Se eu estiver sozinho levo um balde para não precisar jogar a fruta no chão porque amassa. Mas geralmente encontro um parceiro que recebe as frutas quando jogo lá de cima”. Conhecido como “Mineiro do Gás”, o autônomo diz que já tirou 120 abacates de uma só vez no final da Asa Norte. “Foi para fazer doação na minha igreja lá no Paranoá”, conta.

O servidor público Uirá Lourenço também se aproveita da natureza enquanto pedala por Brasília. Sem carro por opção, ele a família utiliza a bicicleta como meio de transporte há anos e conhece os melhores lugares para consumir uma “salada de frutas” no trajeto de casa para o trabalho. Ele come tudo o que encontra pela frente. “Amora, manga, pitanga, acerola. Se não como na hora, levo para fazer suco em casa. Até jaca eu levo para casa no baú da minha bicicleta. Se ela está mole consumo na hora ou faço doce. Mas se estiver dura, eu e a minha esposa fazemos carne de jaca e, do caroço, fazemos uma farofa deliciosa”, ensina.

Para ele, que nasceu no Pará e aprendeu desde pequeno a desfrutar da região amazônica, pedalar ou andar a pé pela cidade é a melhor maneira de aproveitar Brasília. “Recomendo deixar o carro em casa para aproveitar a nossa cidade parque. Além disso, a mobilidade ativa humaniza a cidade, promove o encontro das pessoas e alimenta o espírito comunitário. Conheço muitos lugares e muita gente interessante enquanto pedalo e colho as frutas”.

Frutas mapeadas

A tecnologia tem ajudado os moradores a encontrar as frutas em todo o Distrito Federal. Criado por brasilienses, em 2015, o Fruit Map oferece um mapa interativo dos pés de frutas espalhados pela cidade e pode ser baixado gratuitamente em qualquer plataforma de celular. Ele é colaborativo e qualquer um pode marcar as árvores frutíferas que encontrar como contribuição. Ele é muito simples e mostra, inclusive, se as frutas estão ou não em área pública.

Habitualmente, Afonso Ventania, se alimenta de diversas frutas enquanto pedala pelas regiões administrativas do DF em busca de notícias. Já conhece os “points” de suas frutas favoritas. Mas o aplicativo foi utilizado para ajudar na produção da reportagem.

A Novacap realiza o plantio das árvores frutíferas como parte do programa de arborização que ocorre de outubro a março, período das chuvas. “São plantadas, em média, 15 mil árvores em cada programa anual sem o uso de agrotóxicos”. O órgão acrescenta que, apesar de todos os benefícios, o plantio das árvores pelos moradores requer cuidados. “Recomenda-se que a população não plante sem o conhecimento dos locais apropriados. Existem regiões em que não plantamos e nem recomendamos o plantio, como próximo aos estacionamentos”.

Além de fortalecer a comunidade e educá-la para preservar a natureza sem desperdício, integrar o meio ambiente à vida cotidiana, oferecer a experiência de colher frutas frescas sem adição de químicos, as árvores oferecem frutos que compõem uma alimentação saudável e são fontes de fibras, vitaminas, minerais e antioxidantes que garantem o bom funcionamento do organismo. E ninguém discorda de que é uma maneira deliciosa de conhecer a capital federal.

Dicas:

  • No Parque da Cidade é possível encontrar centenas de frutas, tais como: manga, amora, pitanga, jamelão e outras.
  • Na Universidade de Brasília, entre o ICC e a Reitoria, é possível colher jacas, cacau, caju, jambo amarelo e até café.
  • No Eixão Sul e Norte, há árvores frutíferas nativas do Cerrado como o pequi, araticum, cagaita e algumas outras como jamelão.
  • Nas entrequadras residenciais do Plano Piloto é possível encontrar manga, amora, pitanga, limão, laranja e até pés de mamão e de cana-de-açúcar.
  • Entre o Cruzeiro e o Sudoeste, fica a Avenida das Jaqueiras, conhecida via de acesso dos brasilienses.

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